Guilherme Samora é jornalista, editor de livros e o maior conhecedor da carreira de Rita Lee. Junto à cantora, foi responsável por escrever Rita Lee — Uma autobiografia, livro publicado pela editora Globo e disponível no Skeelo em e-book e audiobook.
Encarregado de diversos projetos que envolvem a cantora, Guilherme participou da narração do audiobook ao lado da atriz Mel Lisboa, que interpretou Rita Lee nos palcos do musical Rita Lee mora ao lado, de 2014 a 2016. Durante a Bienal do Livro de São Paulo, o jornalista compartilhou muitas histórias sobre a artista e contou sobre os bastidores da produção do livro e do audiobook.
“Quando resolvemos fazer a biografia da Rita lá em 2016, começamos com ela escrevendo, me mandando textinho, pedindo a minha opinião. Foi uma coisa tão linda que eu disse que tínhamos que lançar porque as pessoas precisavam ler aquilo”, relata.
Guilherme revela que, a princípio, ele apenas sugeriu adicionar alguns dados como — o fato de Rita Lee ser a mulher que mais vendeu discos no Brasil, totalizando cerca de 55 milhões de álbuns vendidos. Porém, Rita tinha outros planos para a participação de Samora na produção do livro. “Ela falou: ‘você vai ser o Phantom’. Ela inventou um personagem, que é esse fantasminha, todo desenhado por ela, e que me deixava dar pitaco no livro inteiro. Ela me deu liberdade total. Ela é muito autocrítica, às vezes ela fala mal dela mesma e eu não concordo, aí eu comecei a discutir com ela no livro. E foi ótimo porque ela só leu o Phantom com o livro impresso”, relembra.
Já sobre a gravação do audiobook, Guilherme conta o motivo de Mel Lisboa ter sido escolhida para dar voz à Rita Lee na produção. “Eu sou, digamos, chato mesmo com quem tenta fazer ou gravar a Rita porque acho que ninguém consegue, ela é muito única. Eu fui ver a Mel ensaiar e não estava esperando grande coisa, ela é uma baita atriz, mas chegar perto do que é a Rita é muito difícil. Quando cheguei no ensaio, eu vi a Rita no palco, fiquei chocado com a Mel Lisboa enquanto Rita Lee. E foi tão bonito aquilo que a Rita falou: ‘vamos gravar, você é o Phantom e a Mel é a Rita’. Fizemos o convite e ela aceitou lindamente e ficou muito feliz. Ela estudou muito para fazer isso, ela é muito estudiosa. A Rita tem muitos personagens e, como a Mel estudou todos, ela conseguia entender algumas entonações da Rita no livro. Mais do que um trabalho de narração, é um trabalho de atriz”, conta o jornalista.

Guilherme ainda expõe que esteve presente em todas as gravações do audiobook e o resultado o surpreendeu. “Não parecia algo que eu tinha feito, é outra experiência. É gostoso poder ouvir. O que é mais bacana em um produto como esse é que podemos dar uma pausa na história e ir para um player escutar a música que ela está falando na história”, diz. “Foi muito bonito esse trabalho, vocês vão sentir que não é simplesmente um audiolivro. Ali tem muito amor, tem muito trabalho, muita dedicação.”
O jornalista revela que ele e Mel Lisboa se dedicaram imensamente à produção do audiobook: “Nós chegávamos no horário e ficávamos estudando, era muito maluco, mas era uma delícia. Eu esperava pela atuação da Mel e foi uma responsabilidade muito grande porque eu tinha que, pelo menos, ter uma incorporação, porque eu era o Phantom”.
Guilherme diz que é fascinante observar como a cantora tem uma constante renovação de público, indo desde a sua geração até as crianças, por causa de seus livros infantis. Ao refletir sobre as ações da cantora na época da Ditadura Militar, o jornalista confessa: “Ela é muito corajosa, às vezes eu falo isso para ela e ela não se coloca neste lugar. O desacato para a Rita é muito natural, ela não pensa no quanto isso é importante para as mulheres e até para o mundo”.
Para finalizar, ao ser questionado sobre as reações de Roberto de Carvalho, marido de Rita Lee, e dos filhos da cantora, Guilherme conta que ela só quis mostrar quando tudo estivesse pronto: “O Roberto tem um papel extremamente importante na vida dela. Todas essas histórias estão no livro de uma maneira muito honesta e muito orgânica. A Rita não poupa ninguém, nem a ela mesma. Esse livro é a Rita nua e crua. Mais do que uma biografia de uma artista, é um livro que nos ensina muito”, conclui o jornalista.
Confira a entrevista completa: