Skeelo Talks: autores nacionais debatem sobre representatividade LGBTQIAP+

Para encerrar o sexto dia de Bienal, a mesa “LGBTQIAP+ com representação nordestina” contou com a participação dos autores Pedro Rhuas, escritor de Enquanto eu não te encontro, e Aureliano, criador de Madame Xanadu. Os dois títulos estão disponíveis em e-book no aplicativo do Skeelo, e Madame Xanadu também se encontra em sua versão audiobook. Caso prefira, ambos podem ser adquiridos na Skeelo Store.

Paulo Ratz, mediador e embaixador do Skeelo, iniciou a mesa falando sobre a recente conquista de Pedro Rhuas: o autor acaba de bater 50 mil exemplares vendidos de seu livro. “Acho que isso é uma prova para outros artistas nordestinos de que podemos trabalhar nossos materiais sem sair do nosso Nordeste”, diz Rhuas.

Paulo segue o bate-papo perguntando sobre a conexão de Aureliano com Madame Xanadu. O autor se emociona ao responder que desenhava a personagem em seu caderno desde a adolescência. “Ela é carregada de muita dor, mas também de muito brilho. É uma história sobre as famílias que a gente cria, sobre amizade e sobre as redes de apoio que a gente tem. O primeiro livro de Madame é muito diferente. Eu não gostava da pessoa que eu era e jogava tudo para o papel e tudo era muito negativo”, conta Aureliano. “Eu tenho um comportamento de me depreciar muito quando eu vendo a minha arte e isso é muito nocivo. Eu percebi que eu não gostava de mim, mas ainda bem que percebi que todos os dias somos pessoas diferentes, e se estou contando a mesma história sete anos depois, é outra pessoa que está contando”.

Paulo também questionou se as editoras acreditavam no potencial dos trabalhos dos dois autores. “Parte do motivo pelo qual eu publiquei de forma independente foi justamente por acreditar que esse mercado não abriria portas para mim”, conta Pedro. “Até ganhar o concurso da editora, eu não acreditava que poderia publicar. A gente tem que, continuamente, permitir que nossas estruturas sejam escancaradas. Nós temos sim o poder de transformar, a questão é se temos interesse de mexer nessa estrutura. E eu acho que a resposta é sim, nós temos”.

Paulo Ratz então abriu uma rodada para dúvidas da plateia, e uma das espectadoras perguntou como os autores se sentiam representando o Nordeste do país em seus livros e podendo ver tanta gente consumindo essas obras. “Eu acho o máximo”, respondeu Aureliano. “Meu começo, enquanto escritor, era de puxar gente para vir junto. Tem muita gente que olha para nós e passa a pensar que é possível chegar onde nós chegamos”.

Os autores se emocionaram quando questionados sobre a forma que se sentiam sabendo que inspiraram tantos jovens LGBTQIAP+ a se abrirem. “Estamos dizendo que a existência de vocês é linda e que bom que estamos conseguindo fazer isso. Que bom que a literatura jovem no Brasil é orgulhosamente LGBTQIAP”, diz Pedro. “Que bom que estamos dizendo para a nova geração que está tudo bem em ser quem vocês são. É mágico estar aqui na Bienal conhecendo essa juventude. Estamos fazendo história e é lindo, é revolucionário”. Aureliano encerrou a mesa passando uma mensagem de esperança para os espectadores: “Eu passei muito tempo da minha vida achando que eu estava errado em existir, achando que eu não era suficiente. Passei muito tempo querendo não existir. A arte me ajudou a processar tudo isso, a entender que eu tenho meu valor. Para mim, o importante é deixar a mensagem de que é muito difícil existir e estar vivo, mas é o que a gente tem, então vamos tirar o melhor dessa experiência. Gosto de acordar e pensar que viver é bom demais. Mesmo nos momentos mais escuros, essa luz vem, eu garanto. Enquanto tentarmos buscar no outro, a luz não vem, porque ela está dentro de nós”, conclui.

Confira o bate-papo completo com Pedro Rhuas e Aureliano:

Clara Alves e Giulianna Domingues: literatura LGBTQIAP+ por autoras nacionais

A última mesa do dia, com o tema “Literatura LGBTQIAP+ por autoras nacionais”, contou com a presença de Clara Alves e Giulianna Domingues. A primeira é autora de Conectadas, livro publicado pela editora Companhia das Letras, enquanto a segunda, Giulianna Domingues, é autora de Luzes do Norte, publicado pela editora Record. Os e-books estão disponíveis no aplicativo do Skeelo e também podem ser adquiridos na Skeelo Store.

Logo de início, Paulo Ratz perguntou para Clara sobre o sentimento de ser a primeira Bienal do Livro pós-pandemia e a primeira na qual pôde ter a sensação de encontrar os leitores. “É bem diferente, as sessões ficaram muito cheias e eu não esperava por isso”, responde a autora. “Foi meu primeiro contato com os leitores e foi muito incrível, muito legal. Foi o momento em que eu pensei que era tudo o que eu sempre sonhei, eu desejei muitas vezes que esse momento acontecesse”. Giulianna então foi questionada sobre como reagiu ao sucesso de Luzes do Norte. “A fama não era uma coisa que eu imaginava, precisei fazer um exercício mental diário de entender o que estava acontecendo”, explica.

Paulo perguntou sobre a representatividade nos livros das autoras e se elas tiveram alguma inspiração para começar a escrever esses romances. “Quando lancei meus livros, tinham poucas mulheres como eu para me inspirar. Depois que publiquei Conectadas, comecei a encontrar mais pessoas. Foi ali que eu entendi quem eu era”, responde a autora. Giulianna contou que Clara foi uma grande inspiração para que ela começasse a escrever: “Conectadas, como história, faz a gente olhar e falar ‘nossa, eu me vejo aqui!’. Sobre o mercado, acho que cabe a eles olhar que o movimento está crescendo muito. Mas acho que ainda existe muito machismo também, histórias sobre mulheres que se amam são muito fetichizadas”, conclui.

Paulo aproveitou para questionar Giulianna sobre não publicar o livro nos Estados Unidos, onde a autora mora. “Eu sempre me sinto em um ‘não-lugar’, em um lugar transitório entre duas coisas. Eu sou brasileira, mas imigrante. Quando eu escrevi Luzes do Norte, eu não escrevi pensando no público brasileiro ou no público americano, eu escrevi a história que estava no meu coração, e a história que estava no meu coração era em português. Eu já escrevi histórias em inglês, mas eu sempre escrevi em português, sempre foi a minha ferramenta. Eu não pensei muito nisso. Gostaria muito de poder internacionalizar Luzes do Norte, seria um sonho, mas além disso eu amo meu país. Moro fora, mas eu amo o Brasil. Acho que temos um público leitor muito apaixonado”, explica a autora.

A mesa foi finalizada com algumas perguntas da plateia e, logo em seguida, sessões de autógrafos das autoras.

Confira o bate-papo completo com Giulianna Domingues e Clara Alves:

Deixe uma resposta