O gênero literário acerca dos romances de época é conhecido por trazer um pano de fundo histórico para o desenvolvimento das narrativas. Autoras como Jane Austen, Julia Quinn, Lisa Kleypas e Tessa Dare se tornaram consagradas por fazerem grande sucesso com obras voltadas para esse cenário.
No Brasil, os livros de Paola Aleksandra tornaram-se um fenômeno entre o público. Criadora de conteúdo há mais de 10 anos, Paola ficou conhecida por publicar resenhas em seu blog, Livros & Fuxicos, e conteúdo literário em seu canal do Youtube. Atualmente, a criadora de conteúdo acumula mais de 340 mil inscritos na plataforma de vídeos e cerca de 200 mil seguidores no Instagram (@livrosefuxicos). Além disso, Paola é autora de Volte para Mim, Livre para Recomeçar e Reflexos do Passado — publicados pela editora Planeta — e O Roubo — publicado pela editora Increasy. Os livros estão disponíveis no aplicativo do Skeelo e os três primeiros podem ser adquiridos na Skeelo Store.
Na Bienal do Livro de São Paulo, Paola esteve presente no estande do Skeelo e bateu um papo com Paulo Ratz sobre o sucesso dos romances de época entre os leitores. Além de autora, Paola também é grande consumidora de livros de romance de época e revela que eles serviram como seu primeiro acesso à leitura. “Comecei com os romances de banca, era uma literatura que era mais barata e que eu conseguia comprar. Sempre gostei das capas dos romances de banca. Li e amei. É um gênero que sempre conversou comigo”, conta.

Preconceito com romances e a importância da pesquisa na construção
Paola Aleksandra tornou-se uma grande referência na Internet e no meio literário no que diz respeito a livros de romance. Ainda assim, a autora diz que ainda percebe algum tipo de preconceito com o gênero. “Muitas pessoas acreditam que só precisa focar no romance porque é o que faz sucesso, mas o gênero é muito mais do que isso. As minhas histórias favoritas são aquelas que têm essa conotação histórica”, explica.
Paola revela um pouco dos bastidores da produção de seus livros e conta que seu processo favorito quando começa a escrever um romance histórico é a pesquisa, algo extremamente importante no que concerne a esse gênero. “Eu gosto de história desde a época da escola, gosto de assistir e ler sobre isso. Eu gosto de pesquisa, então as primeiras cenas que vêm para mim sempre têm essa relação com os lugares”, compartilha. “Por exemplo, em Livre para Recomeçar, eu sabia que queria trabalhar alguns temas como violência doméstica e falar sobre hospícios para alienados, algo comum nesse período.”
O livro Livre para Recomeçar conta a história de Anastácia, uma mulher que perde o controle de seu futuro e é presa em um hospício para alienados no Rio de Janeiro, mas, três anos após sua internação, precisa enfrentar seu passado e buscar formas de recomeçar sua vida. Paola conta que sua ideia original era escrever sobre esses ambientes em Paris, até que sua agente a desafiou a falar sobre um hospício brasileiro. “Fui pesquisar e descobri um lugar aqui no Brasil e a história dele. Também achei muitas fichas médicas de mulheres que passaram por esse lugar. Eu pesquiso muito, sou muito focada e acho que até costumo ficar pendendo demais para essa parte”, confessa.
Depois de fazer a pesquisa histórica, Paola imagina o ambiente em questão: “Pesquiso sobre o cenário, pontos reais históricos que vão para o livro, situações ou figuras em que vou me inspirar, depois a busca das histórias das pessoas para entender a jornada delas”, explica. “Depois eu construo os personagens e, por último, como o livro vai começar, qual vai ser o clímax e como vai acabar. Sabendo disso tudo, sento para escrever.”
Início de carreira como autora
Paola conta um pouco sobre o pontapé inicial que a levou a começar sua carreira como autora de livros de romance de época e revela que a decisão foi incentivada por Babi A. Sette, autora de A promessa da rosa e outros títulos disponíveis para compra na Skeelo Store. “Na minha primeira Bienal, encontrei a Babi e disse que o livro dela mexeu comigo, me emocionou e me deu vontade de escrever. Ela me perguntou: ‘por que você não escreve? Escreve sim, você acredita em você?’. Isso tocou em uma ferida, eu disse que ia tentar e tentei. E aconteceu”, relembra.
“Acho que a sensação que dá, como escritor, é aquela de ficar esperando o momento certo para escrever. As primeiras vezes causam estranheza, e com os livros é a mesma coisa, você literalmente aprende fazendo. É muito difícil escrever. Eu olho Volte para mim e vejo que tem coisas que eu poderia melhorar. Acho que faz parte do nosso processo de construção e crescimento”, esclarece a autora. “Eu tenho episódios de ficar uma semana inteira acordada na base do energético para dar conta porque era muito difícil, exaustivo, cansativo, não é nada do que é essa romantização excessiva com trabalho, porque é uma pressão, você não sabe o que as pessoas vão achar. É muito difícil.”

Processo de escrita e vivência das emoções
Ainda falando sobre o processo de escrita, Paola relata que um dos seus maiores desafios foi retratar a escravidão em seu romance. “Quando falamos sobre romance de época no Brasil, temos dois caminhos: escrever sobre o período da escravidão ou escrever o pós-escravidão. Seria muito mais fácil, para uma mulher branca e privilegiada como eu, escrever sobre o pós, mas eu queria falar sobre isso. Foi um desafio, mas fez com que eu crescesse e aprendesse, foi um processo gigantesco”, recorda.
Durante a conversa, a autora também diz que, durante a escrita, algumas cenas costumam mexer com ela. “É muito difícil porque você precisa puxar essas emoções de algum lugar. De determinada forma, isso afeta sim e faz com que você vivencie coisas que são dolorosas, ainda mais quando falamos de relacionamentos abusivos”, afirma. “Quando eu pesquisei sobre o hospício, descobri que três mulheres francesas vivenciaram o mesmo período de Livre para Recomeçar; ficaram internadas lá e nenhuma saiu viva. É doloroso porque eu romantizei uma situação de que a personagem conseguia sair e ter condição financeira para recomeçar, mas a verdade é que 99% das mulheres não tiveram essa oportunidade”, encerra.
Para conferir o bate-papo completo com Paola Aleksandra acesse o Skeelo no Spotify: