Vai ter romance nacional no topo do Netflix, sim! “O lado bom de ser traída”, filme estrelado por Giovanna Lancelotti, entrou no top 10 da plataforma de streaming em mais de 80 países, totalizando 14,7 milhões de visualizações e 24,3 milhões de horas assistidas em todo o planeta.
A trama é uma adaptação do livro de mesmo nome, da autora brasileira Sue Hecker. A obra está disponível em e-book e audiolivro – este, inclusive, acaba de ganhar uma nova versão, com conteúdo extra. Para falar sobre os bastidores da adaptação, o Blog Skeelo conversou com exclusividade com a autora de “O lado bom de ser traída” e também com Carlo Carrenho, editor da Pop Stories, responsável pela publicação do audiolivro, e consultor editorial. Confira!
Sue Hecker: “as autoras de romance não são invisíveis”
Você lançou “O lado bom de ser traída” dez anos atrás. Se você voltasse no tempo e contasse para a Sue que seu livro seria adaptado para a Netflix, ela acreditaria?
Não (risos). A primeira plataforma que eu publiquei “O lado bom de ser traída” foi o Wattpad, e lá ele teve mais de 6 milhões de leituras. Já na época eu recebi email deles parabenizando pelo alcance da história e eu não acreditava nisso. Depois veio a publicação com a HarperCollins, a produção do audiolivro… “O lado bom de ser traída” é um filho que eu gestei, dei vida e agora estou vendo crescer. Mas é importante dizer que temos de trabalhar para o desenvolvimento deste filho. Não adianta esperar que as plataformas ou os leitores descubram o seu livro, o autor tem que fazer acontecer. Estar hoje com o livro adaptado na Netflix e ocupar o primeiro lugar global de conteúdo mais visto em língua não inglesa, ocupar o terceiro lugar em conteúdo mais visto nos Estados Unidos.. ainda não caiu a ficha. Estou entendendo e absorvendo ainda o quanto isso é grandioso. Eu procuro manter os meus pés no chão, mas estou muito feliz com tudo o que está acontecendo.
Além de ser uma grande conquista para você como autora, é também uma grande conquista para o público leitor de romances…
Ser uma autora brasileira de romance feminino não é fácil; a gente passa por muita coisa. Uma conquista dessas (ter o livro adaptado para a Netflix) diz “eu não sou invisível”, “eu tenho um público, pessoas que gostam do que eu escrevo”. Todos os gêneros literários tem espaço no mercado editorial, as pessoas gostam de ler livros diversos. As autoras de romance feminino existem e movimentam muito o mercado, especialmente o digital – nós só precisamos de oportunidades. Com o lançamento do filme, eu pude ver também a mobilização dos autores. Vários autores compartilharam, divulgaram “O lado bom de ser traída”, vários blogs literários, leitores – foi emocionante ver tudo isso.
Você participou do processo de produção do filme?
Desde que fechamos o contrato para a adaptação do livro, eu sempre estive em contato com os produtores. Logo no começo eles sempre reforçaram comigo o que era uma “adaptação”, que o texto seria lido pelos roteiristas e que a história seria contada da forma deles, e nós pudemos trabalhar com dois roteiristas incríveis (Camila Raffanti e Davi Kolb). Eu recebi a escaleta, pude sugerir alterações ao longo do processo, participei do teste de química entre os atores, foi um processo bem bacana.
Como foi assistir a adaptação de “O lado bom de ser traída” pela primeira vez?
Eu nem sei explicar o que eu senti. Quando eu sentei na frente da televisão, eu só conseguia chorar. Foi realmente semelhante ao momento de um parto – um parto diferente, claro, mas um parto. A emoção simplesmente tomou conta. Até hoje eu me emociono, eu já assisti ao filme mais de cinco vezes, mas é como ver a conquista de um filho, um aniversário de mais um ano… Essa é a sensação. E tem sido muito legal ver os novos leitores que o filme trouxe, pessoas que conheceram a história por conta da entrada no Netflix – isso permitiu que “O lado bom de ser traída” saísse do “nicho do romance” e alcançasse novos públicos em potencial.
Muitas pessoas compararam “O lado bom de ser traída” com outros títulos do gênero, como “Cinquenta tons de cinza” e “365 dias”. Como você lida com esse tipo de comentário?
São comentários feitos apenas para desmerecer a obra, eu entendo assim. Comparar trilogias com uma história única, comparar uma história que se passa no Brasil, ambientada em São Paulo, com histórias gringas, não faz muito sentido. Na verdade, eu fico maravilhada em ver “O lado bom de ser traída”, uma história tão brasileira, que se passa no nosso país, com a nossa linguagem, ganhar o mundo como está ganhando.
Você percebeu a chegada de novos leitores para os seus livros após a estreia de “O lado bom de ser traída” no Netflix?
Sim, muitos! Muitas leitoras, especialmente mulheres maduras, que gostam de romance, que gostam de novelas, novelas turcas e dorameiras. Leitores também de outros países, como Espanha, Polônia, Estados Unidos, diversos países árabes… Recebo muitas mensagens nas redes sociais e sempre faço questão de responder todas, mas não estou dando conta ainda de responder todas as mensagens que recebi nos primeiros dias após a estreia do filme. Procuro me fazer presente nas redes sociais e nos grupos de WhatsApp de leitores diariamente, porque são os leitores que fazem os livros acontecerem. Ah, e por incrível que pareça, muitos leitores homens também.
Sério? Leitores homens?
Pois é. Maridos de leitoras, leitores espontâneos também. O homem, em geral, não tem muito essa experiência de ler um romance, então eles se surpreendem com o nosso tipo de narrativa – digo nosso porque não sou a única, outras autoras que eu conheço também relatam que mais homens têm lido os seus livros. Percebo que as mensagens dos leitores homens são mais sérias, acredito que até por uma preocupação deles de não serem desrespeitosos – o homem que se permite ler romances é mais aberto, tem uma visão de mundo diferente. É muito legal de ver.
E como é o seu processo de escrita, desde a ideia até o livro final? Onde busca referências e inspirações para as suas histórias?
A primeira coisa é ler bastante. Eu leio muito, e leio principalmente literatura nacional – acredito que, se eu quero que as autoras brasileiras cresçam, eu devo ser a primeira incentivadora, devo prestigiar minhas colegas. Outra coisa: eu sou muito xereta (risos). Eu gosto de pesquisar, eu participo de diversos grupos de discussão, sobre sexologia, sobre fetiches, grupos de mulheres. Gosto bastante de ler notícias, ler jornais, pesquiso trabalhos científicos sobre o tema que eu estou escrevendo.
Sobre o processo, vou te dar o exemplo do livro mais recente que escrevi. Eu estava olhando o TikTok quando eu vi um conteúdo sobre jogo primal, e eu nem imaginava o que poderia ser jogo primal, então fui pesquisar. Comecei entrando nos sites brasileiros que falavam sobre o assunto, encontrei coisas sobre uso de animais de estimação, sobre machucar, algo que não tem nada a ver com a essência do jogo primal. Continuei pesquisando, usei o termo em inglês e encontrei um site canadense que fala tudo sobre jogo primal, todas as suas vertentes e reforça que sua base é o uso de itens naturais, estímulo dos sentidos usando itens naturais, e a perseguição.
Com esse conhecimento, eu fui entender como poderia aplicar isso aos meus personagens sem ficar esquisito, já que os meus protagonistas são um advogado de 38 anos – que, convenhamos, não vai ficar correndo atrás de ninguém em uma floresta (risos) – e uma mulher jovem, que vai estagiar no escritório de advocacia dele. Aqui também tem outro ponto importante da pesquisa: eu sempre tenho um profissional da área para me ajudar. Comecei a escrever e mandei o prólogo para uma advogada, que me alertou que a minha personagem não poderia advogar na Itália sem passar pelo menos um período de três anos como auxiliar no escritório – eu não tinha essa informação. Em resumo, é isso: pesquisar muito e estar disposta a sair da ignorância. Só assim podemos trazer uma história nova.
Agora vamos falar sobre “O lado bom de ser traída” na versão audiolivro. Você lançou uma nova versão dele, que também conta com o prólogo de “Caleidoscópio”. O que os leitores podem esperar da versão em áudio dessa história?
Acho que ainda não temos a cultura tão forte do consumo de audiolivros no Brasil, e, dentro do gênero que eu escrevo, são poucos os livros disponíveis, principalmente nacionais. É algo que deve se investir mais, na minha opinião, pois leitoras existem – e elas amaram ouvir. As partes mais picantes então… (risos). É diferente você ler as palavras e ouvir uma pessoa falando aquelas palavras. É quente, e quem gosta, gosta – quem não gosta, vai se sentir chocado (risos). Outra coisa, o audiolivro também permite certa discrição. Uma mãe, por exemplo, não vai ouvir “O lado bom de ser traída” na sala com o filho, mas no fone de ouvido, fazendo uma caminhada, indo a algum lugar, na academia… por que não?
Com a palavra, o editor: Carlo Carrenho fala sobre sucesso de “O lado bom de ser traída”
Sucesso pós-Netflix e carreira internacional para Sue Hecker
“O sucesso do filme, principalmente no exterior, foi inesperado e super importante para a divulgação e para a carreira da Sue Hecker. Acredito que o filme abre portas para que as pessoas venham a conhecer o livro, seja no formato físico, digital ou audiolivro. Nesse momento, estamos em negociação com uma editora americana para publicarmos o livro em inglês, também em todos os formatos. É a primeira vez em toda a minha carreira no mercado editorial que eu vou ter um autor traduzido para outro idioma.”
O consumo de audiolivros de romance
“Romance em audiolivro funciona no mundo inteiro. Varia de região para região – por exemplo, América Latina consome muito os livros de não ficção e autoajuda, mas também consome romance. Na Europa, ficção domina, e romance é um desses gêneros; na Alemanha, acabou de sair um estudo que comprovou que romance é o gênero mais lido atualmente por lá. Eu prefiro trabalhar com boas histórias.”
A produção de um audiolivro de romance erótico
“Os romances eróticos são muito mais fortes em áudio do que em texto. E se trata de uma produção mais complexa, que exige pelo menos dois narradores (uma voz para cada protagonista), e dois narradores que saibam ler e interpretar as cenas de um romance erótico. Muitos narradores negam fazer, porque não se sentem à vontade. Mas eu entendo que é um gênero seguro, que vale investir, pois terá consumo.”
“O lado bom de ser traída”, de Sue Hecker (disponível em e-book e audiolivro na Loja Skeelo)
SINOPSE: Bárbara é jovem, bem-sucedida e apaixonada por Caio, seu noivo. Mas tudo muda no dia em que vê uma foto de Caio ao lado de uma mulher que também se diz noiva dele. Em um piscar de olhos, tudo em que ela acreditava se mostra uma mentira, e seu mundo desmorona. Decidida a não se entregar à derrota, ela resolve dar a volta por cima: renovar o visual, começar a pensar positivo e achar novos hobbies. Durante esse processo, o destino coloca em seu caminho Marco, um juiz que consegue acender algo dentro dela com apenas um olhar — e que está disposto a lhe mostrar o que é desejo de verdade. Mas Marco não vem sem complicações, como Bárbara logo descobre. Ela começa a receber ameaças anônimas; a ex-esposa de Marco está pronta para causar problemas e Caio não parece disposto a sair de sua vida. Resta saber se, de fato, Bárbara mudou o suficiente para se entregar sem amarras.
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