Dia do tradutor: o ofício do profissional
Confira a curiosa história por trás do dia 30 de setembro.

O profissional de tradução, diferente do que pensa a maioria das pessoas, pode atuar trabalhando para além de documentos importantes, como é o caso de produtos de entretenimento e cultura — livros e obras audiovisuais (no caso das legendas), tradução oral, intérprete em palestras e entrevistas.
No dia 30 de setembro, é comemorado o Dia do Tradutor. A data é curiosamente ligada ao falecimento de São Jerônimo, considerado o patrono dos tradutores, responsável por traduzir a Bíblia para o latim (a mesma obra que revolucionou o mundo dos livros quando foi impressa pela primeira vez).
Engana-se quem acredita que o tradutor precisa conhecer apenas outro idioma além de sua língua materna; os conhecimentos exigidos a esse profissional vão além do dialeto: é importante que ele tenha uma curiosidade constante e mantenha o aperfeiçoamento profissional para adquirir e manter propriedade sobre a cultura relacionada ao idioma e compreensão de mundo — como história e geografia. Nessa área de atuação, é preciso nutrir um amor por fazer pesquisas. Entender sobre a cultura ajuda a transmitir com respeito e autoridade o que o autor quis dizer em determinados ditados, jogos de palavras e gírias, por exemplo.
Além de deixar o conteúdo acessível, os tradutores também devem identificar o estilo do autor — quando falamos de livros —, para transmitir o conteúdo de forma que faça sentido para a língua que está sendo transportado. Ainda que o profissional tenha autoria sobre a interpretação daquele texto, o tradutor não é o autor original da narrativa. Existe, inclusive, uma longa discussão sobre as diferenças entre tradução, reescrita, transcrição e até mesmo apropriação.
Alguns determinados gêneros textuais são mais desafiadores que outros, como os escritos em versos ou textos poéticos. Como característica, esse gênero textual se sujeita a ritmo, rima, métrica e aliteração. A tradução dos versos precisa transmitir o trabalho feito no original, permanecendo de acordo com as estruturas do outro idioma.
Um célebre tradutor brasileiro foi Machado de Assis. Coincidentemente — e fazendo jus à profissão — no dia 29 de setembro completou-se 114 anos de sua morte. Hoje em dia, Machado é reconhecido por ser o mais relevante autor da história da literatura brasileira; no entanto, também como tradutor, trouxe grandes obras para o nosso idioma, e sua trajetória, nesse aspecto, pode até ter contribuído para sua versatilidade como escritor.
Um dos mais comentados e controversos trabalhos de Assis é a tradução de 1883 do poema narrativo O Corvo, de Edgar Allan Poe. As escolhas feitas pelo Bruxo do Cosme Velho, como é conhecido, são bem diferentes das de outras traduções, como a famosa versão de Fernando Pessoa e da rítmica do texto original. O consenso que se criou acerca do tema é que ele inseriu muitas referências ao que era feito no Brasil em poemas na época. Conheça a tradução de Machado para o texto!
A profissão de um tradutor é tão importante no mundo dos livros que é celebrada em premiações do mundo literário, como no tradicional e prestigiado prêmio anual Jabuti. Na última edição, de 2021, o título vencedor pelo exímio trabalho de tradução foi Divã ocidento-oriental, de autoria do poeta J. W. Goethe, publicado pela Estação Liberdade e traduzido do original em alemão por Daniel Martineschen. A publicação é resultado de anos de pesquisa e do trabalho de doutorado do tradutor, que trouxe pela primeira vez para o português o poema na íntegra.