6 livros para ler no Dia dos Povos Indígenas

A data é um momento para exaltar a diversidade de povos originários. Confira as indicações de Mayra Sigwalt.

6 livros para ler no Dia dos Povos Indígenas
O dia dos povos indígenas existe para celebrar e exaltar os povos indígenas! (Photo by Brastock Images | Adobe Stock)

Quantos autores de origem indígena você conhece? Quantas histórias que abordam nossos povos originários estão na sua estante? É provável que não sejam muitas: os povos indígenas já sofreram e ainda sofrem muito com o preconceito e o descaso. Datas especiais, livros com essa temática e influenciadores que abordem o tema são essenciais para a transformação da sociedade, trazendo voz e visibilidade para essas histórias tão importantes.

Mayra Sigwalt é cineasta de formação, contadora de histórias e influenciadora de literatura e representação indígena na cultura pop. A descendente do povo indígena kaingang inh jãre to kãtĩg usa suas redes sociais para divulgar autores e histórias indígenas, bem como para discutir curiosidades e atualidades.

Pensando nisso, o Skeelo a convidou para fazer uma seleção de livros especial para o Dia dos Povos Indígenas, celebrado em 19 de abril de 2023. Confira abaixo 6 livros para ler nesse dia especial.

Ideias para adiar o fim do mundo (Nova edição), de Ailton Krenak| Companhia das Letras

Sinopse: Uma parábola sobre os tempos atuais, por um de nossos maiores pensadores indígenas. Ailton Krenak nasceu na região do vale do rio Doce, um lugar cuja ecologia se encontra profundamente afetada pela atividade de extração mineira. Neste livro, o líder indígena critica a ideia de humanidade como algo separado da natureza, uma "humanidade que não reconhece que aquele rio que está em coma é também o nosso avô". Essa premissa estaria na origem do desastre socioambiental de nossa era, o chamado Antropoceno. Daí que a resistência indígena se dê pela não aceitação da ideia de que somos todos iguais. Somente o reconhecimento da diversidade e a recusa da ideia do humano como superior aos demais seres podem ressignificar nossas existências e refrear nossa marcha insensata em direção ao abismo. "Nosso tempo é especialista em produzir ausências: do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida. Isso gera uma intolerância muito grande com relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de estar vivo, de dançar e de cantar. E está cheio de pequenas constelações de gente espalhada pelo mundo que dança, canta e faz chover. [...] Minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar mais uma história." Desde seu inesquecível discurso na Assembleia Constituinte, em 1987, quando pintou o rosto com a tinta preta do jenipapo para protestar contra o retrocesso na luta pelos direitos indígenas, Krenak se destaca como um dos mais originais e importantes pensadores brasileiros. Ouvi-lo é mais urgente do que nunca. Esta nova edição de Ideias para adiar o fim do mundo, resultado de duas conferências e uma entrevista realizadas em Portugal entre 2017 e 2019, conta com posfácio inédito de Eduardo Viveiros de Castro.

A origem do beija-flor: Guanãby Muru-Gáwa, de Yaguarê Yamã | Editora Peirópolis

Sinopse: Os mitos de origem do mundo e dos seres que nele vivem são uma grande riqueza dos povos indígenas. Neste livro, Yaguarê Yamã registra uma dessas histórias: o mito da origem do beija-flor, que vive na memória dos antigos pajés do povo Maraguá, habitante do vale do rio Abacaxis, no Estado do Amazonas. Esse povo valoriza muito o contador de histórias, personagem sempre requisitado no cotidiano e nos festejos da tribo, e é conhecido como "os índios das histórias de fantasmas". Neste livro, a delicada história é apresentada em português e em maraguá, dialeto misto de Aruak com Nhengatu, e integra a coleção Peirópolis Mundo, que busca valorizar línguas minoritárias de todas as partes do planeta.

Futuro ancestral, de Ailton Krenak | Companhia das Letras

Sinopse: Nesta nova coleção de textos, Ailton Krenak nos provoca com a radicalidade de seu pensamento insurgente, que demove o senso comum e invoca o maravilhamento. A ideia de futuro por vezes nos assombra com cenários apocalípticos. Por outras, ela se apresenta como possibilidade de redenção, como se todos os problemas do presente pudessem ser magicamente resolvidos depois. Em ambos os casos, as ilusões nos afastam do que está ao nosso redor. Nesta nova coleção de textos, produzidos entre 2020 e 2021, Ailton Krenak nos provoca com a radicalidade de seu pensamento insurgente, que demove o senso comum e invoca o maravilhamento. Diz ele: "Os rios, esses seres que sempre habitaram os mundos em diferentes formas, são quem me sugerem que, se há futuro a ser cogitado, esse futuro é ancestral, porque já estava aqui." "Ailton Krenak é um filósofo originário: desentranha do pensamento indígena uma forma que os ocidentais se habituaram a reconhecer como 'filosofia' e a confronta, à medida que também a aproxima, com os modos especulativos europeus e outras cosmovisões tradicionais." — Muniz Sodré

O saci verdadeiro, de Olívio Jekupé | Panda Books

Karaí aprendeu com sua mãe várias histórias sobre o seu povo. Sua favorita era a de Jaxy Jaterê, o protetor das florestas e das pessoas. Quando começou a frequentar a escola, ele descobriu que havia um livro sobre Saci-Pererê, nome dado pelos não índios ao mesmo personagem. Aquilo deixou o curumim confuso, afinal, qual era o Saci verdadeiro? Nesta história em quadrinhos, Olívio Jekupé revela a importância do registro das histórias orais e da preservação da memória para os povos indígenas.

A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami, de Davi Kopenawa, Bruce Albert | Companhia das Letras

Relato de xamã Yanomami revela a riqueza e as lutas dos povos da floresta em livro de gênero único. Um grande xamã e porta-voz dos Yanomami oferece neste livro um relato excepcional, ao mesmo tempo testemunho autobiográfico, manifesto xamânico e libelo contra a destruição da floresta Amazônica. Publicada originalmente em francês em 2010, na prestigiosa coleção Terre Humaine, esta história traz as meditações do xamã a respeito do contato predador com o homem branco, ameaça constante para seu povo desde os anos 1960. A queda do céu foi escrito a partir de suas palavras contadas a um etnólogo com quem nutre uma longa amizade - foram mais de trinta anos de convivência entre os signatários e quarenta anos de contato entre Bruce Albert, o etnólogo-escritor, e o povo de Davi Kopenawa, o xamã-narrador. A vocação de xamã desde a primeira infância, fruto de um saber cosmológico adquirido graças ao uso de potentes alucinógenos, é o primeiro dos três pilares que estruturam este livro. O segundo é o relato do avanço dos brancos pela floresta e seu cortejo de epidemias, violência e destruição. Por fim, os autores trazem a odisseia do líder indígena para denunciar a destruição de seu povo. Recheada de visões xamânicas e meditações etnográficas sobre os brancos, esta obra não é apenas uma porta de entrada para um universo complexo e revelador. É uma ferramenta crítica poderosa para questionar a noção de progresso e desenvolvimento defendida por aqueles que os Yanomami - com intuição profética e precisão sociológica - chamam de "povo da mercadoria".

Ay Kakyri Tama: Eu moro na cidade, de Márcia Wayna Kambeba | Editora Jandaíra

A cultura indígena se propaga e se mantém, há milênios, pela tradição oral. Narrativas, rituais sagrados, costumes e a própria língua são transmitidos a partir da conversa e da contação de histórias. Se o inevitável contato entre os povos originários e o "branco" colonizador trouxe muitos prejuízos a essas culturas, também promoveu um rico diálogo entre indivíduos. Graças ao acesso à literatura brasileira pode contar com a presença fundamental de autores indígenas para multiplicar ainda mais seu alcance. Márcia Wayna Kambeba é uma dessas vozes, que se firma percorrendo o Brasil com sua poesia e sua música. Em Ay Kakyri Tama [eu moro na cidade, em tupi-kambeba] ela constrói uma ponte entre sua origem indígena e a vida em cidades do Pará, apresentando a história de seu povo e sua luta em poesias e imagens repletas de emoção e verdade. Com uma população conhecida de 50 mil pessoas, entre aldeados e moradores da cidade, o leitor pode conhecer e se encantar pela etnia Omágua/Kambeba pelo olhar acolhedor e combativo de Márcia, uma de suas vozes mais expressivas.

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