Falar sobre sexualidade pode ser um tabu, mas não para Marcela Mc Gowan. Médica, apresentadora, influenciadora digital e ex-participante da vigésima edição do Big Brother Brasil, Marcela esteve no estande do Skeelo na Bienal do Livro de São Paulo para falar sobre seu livro Senta que nem moça: um guia descomplicado de sexualidade e prazer, publicado pela Companhia Editora Nacional. O e-book está disponível no aplicativo Skeelo e é possível adquiri-lo na Skeelo Store.
O livro de Marcela propõe um bate-papo acolhedor e informativo sobre sexualidade e prazer feminino, discutindo questões e conceitos sociais, tratando o tema de forma natural e livre de julgamentos. Em conversa com a jornalista Izabella Camargo durante o Skeelo Talks, a autora falou um pouco sobre sua trajetória, abordando a própria experiência de autoconhecimento e como surgiu a inspiração para escrever o livro.

A importância de conhecer o próprio corpo
Marcela debate sobre como é primordial que as mulheres se informem, adquirindo um autoconhecimento acerca do próprio corpo e prazer. “Se não procurarmos nosso prazer do dia a dia, a vida fica mais pesada. Se não encontramos esses momentos prazerosos na vida, encontramos menos ainda quando estamos à sós”, explica. “Como podemos pular a etapa de autoconhecimento e dar o privilégio de nos conhecerem antes de nós mesmas? Eu entendo que o prazer compartilhado é algo que é muito buscado socialmente, mas o momento solo é muito importante. É extremamente indicado que a gente viva para ter prazer, para ter experiências, colecionar vivências e que elas sejam, de preferência, o mais prazerosas possíveis na nossa vida.”
A influenciadora também compartilhou uma experiência que teve no consultório médico e que foi essencial para uma virada de chave em sua vida. “Recebi uma paciente que já era viúva há algum tempo, ela veio por uma questão ginecológica. Quando perguntei sobre a vida sexual dela, a resposta foi que ainda bem que tinha perdido o parceiro e não precisava mais ter relações”, conta. “Essa fala me doeu muito porque como é que nós saímos de uma coisa que deveria ser prazerosa para algo que não só é obrigação, mas doloroso e violador, de alguma maneira? Eu gostaria de dizer que foi só uma senhora dessa idade que viveu isso, mas infelizmente é uma realidade de muitas mulheres.”
Marcela afirma que sua própria vivência a levou a estudar sobre tais situações. “Ninguém faz uma atividade durante muito tempo se não tem um retorno prazeroso. É assim que normalizamos servir apenas ao outro com o nosso prazer. Esse foi o roteiro da minha vida até o momento em que eu descobri meu prazer, aí pensei: nenhuma mulher que vive próxima de mim vai ficar sem saber que isso existe.”
Como foi a experiência de escrever um livro sobre prazer e sexualidade?
Marcela diz que escrever foi um anseio de resumir seus trabalhos no consultório, cursos que frequentava, informações que leu e consumiu ao longo dos anos de estudo sobre o assunto. “O livro veio dessa vontade de entregar informações nas mãos do máximo de pessoas possível. Eu sabia que eu queria que ele fosse muito didático e simples de leitura”, conta. “Esse foi o meu maior desafio, inclusive, porque como médica eu sou meio técnica, então adequar a linguagem foi um desafio. Queria que ele fosse ilustrado porque é algo que não é de uma prateleira médica ou algo que você tem vergonha de comprar por ser um livro de sexualidade. É um livro para você se sentir à vontade para levar para qualquer lugar. Então acho que deu muito certo.”
Marcela também diz que procurou usar muito do seu alcance conquistado no reality show para levar mais informações para as pessoas. “O livro é uma ferramenta que atinge locais que eu não vou chegar pela internet. Além disso, é algo mais permanente, que a pessoa pode consultar várias vezes, levar ao médico e falar sobre isso”, diz.
Ainda sobre a importância do autoconhecimento, Marcela afirma que isso é essencial até para consultas médicas. “Uma coisa que veio à tona foi essa terceirização da nossa saúde e do nosso prazer até no sentido médico. O médico é uma pessoa técnica que detém um conhecimento, mas não existe alguém melhor do que você mesma para saber o que é bom para sua vida”, explica. “Autoconhecimento é tudo em qualquer âmbito: mental, espiritual, físico e corporal. Então, é óbvio, você vai ao médico consumir um conhecimento técnico, mas você também vai levar um conhecimento sobre quem é você. Como é que eu vou ditar o melhor método contraceptivo para você se eu não sei o seu estilo de vida, seus hábitos, suas expectativas?”
A médica conta que, durante o processo de escrita do livro, pensou como era importante dar as ferramentas para que as pessoas tomassem as próprias decisões sobre seus corpos, sem depender dessa terceirização. “Eu acho que o livro tem essa ideia de dar ferramentas para as pessoas para que as decisões delas, em todos esses âmbitos de saúde íntima e sexualidade, sejam decisões que elas tomaram conscientemente e não porque alguém disse que é o melhor a ser feito”, conclui.
Homens também são prejudicados com essa situação?
Para esta pergunta a resposta de Marcela é certeira: “O que temos de machismo na sociedade prejudica os dois lados. Lógico que falo mais para e sobre mulheres, mas para os homens também é um prejuízo muito grande”. Marcela diz que costumava atender homens em seu consultório e que a experiência era muito diferente, já que os homens chegavam com muita insegurança. “Percebi que tinha algo que não foi suprido, que ninguém ensinou e ninguém falou porque não se fala de sexualidade em um nicho de vulnerabilidade, não falam de medos, de inseguranças. Homens falam de performance. Nós não falamos muito de sexualidade masculina porque é um tipo de sexualidade que, em geral, tem o fruto do prazer mais rápido, mas ainda assim é um prazer muito curto”, diz.
Da teoria para a prática
Marcela afirma que não existe nada mais empoderador do que ser bem informado e que é preciso primeiro entender as raízes do problema para depois solucioná-lo. “O que eu tento fazer é questionar o motivo de estarmos nessa situação. Por que temos tantas queixas sexuais? Depois de entender essa base, precisamos aprender a nos livrar disso e conhecer um lado positivo da história, um lado em que o prazer feminino tem protagonismo”, explica.
A autora conta que é muito comum ouvir relatos de mulheres sobre uma sensação de abuso mesmo sem nunca terem vivido algo parecido. “É muito importante que a gente não normalize relações em que não temos prazer, em que nosso ‘não’ não foi respeitado. O sexo é uma experiência que tem que ser 100% positiva, é preciso ter troca e ter conexão para ter prazer”, finaliza.
Para ouvir a entrevista completa, acesse o Skeelo no Spotify: